Por Flavia Ranieri
A mostra CASACOR MG de 2022 mais uma vez foi acolhida aos pés da Serra do Curral em Belo Horizonte. Realizada no Palácio das Mangabeiras, a exposição conseguiu desenvolver um percurso praticamente plano em um terreno inclinado desafiador. A cidade é conhecida pelos seus morros e ruas inclinadas e foi justamente em um dos pontos mais altos dela, onde essa característica se faz mais presente, que ela foi instalada. Para vir do estacionamento até a entrada do evento havia disponível um carrinho de golfe para enfrentar o trajeto em aclive. Ponto positivo para mostra.
ACESSIBILIDADE
Mas a acessibilidade não foi o forte no restante do caminho. Na transição entre os ambientes e consequentemente de pisos diferentes, os desníveis não foram bem resolvidos. Minha mãe, 73 anos e que estava com uma bengala teve que manter a atenção redobrada e não foram poucos os tropeços que ela teve pelo caminho.
Os desníveis entre o caminho principal e os jardins laterais também tiveram soluções diferentes.
Nesse caso, a peça de acabamento funciona muito bem como uma proteção lateral para o limite do piso.A norma de acessibilidade indica que quando o desnível for acima de 18cm, essa proteção deve ter pelo menos 15cm. Ela funciona para parar cadeiras de rodas e ser percebida por bengalas, por exemplo. Quando o desnível é maior que 60cm também é necessário o uso de um guarda-corpo.
Apesar desses percalços preciso realçar que também haviam soluções inteligentes e bem elaboradas na mostra. Na foto abaixo vemos um detalhe que foi muito bem executado e que é nossa sugestão de solução para esses casos. Uma soleira rampada cumpre a função quando o desnível tem até 1cm de altura.
PORTAS
As portas de entrada dos ambientes foram um show à parte. Em sua maioria os arquitetos optaram pela porta com abertura pivotante. O interessante dessa solução é que despensa qualquer tipo de trilho. No entanto, nesse caso, o projetista deve ficar atento ao vão livre final quando ela estiver aberta. Como parte abre para fora e parte para dentro o vão de passagem útil fica reduzido em relação ao vão luz original. Garanta que a passagem livre tenha pelo menos 90cm de largura.
As portas de correr também estavam presentes e gostaria de destacar três delas que me chamaram a atenção. Na primeira foto vemos o trilho embutido no piso. Além de dar a sensação de amplitude e prolongar o visual integrando a parte externa com a interna, ele não tinha nenhuma saliência acima do piso, evitando tropeços. Já na segunda porta, conseguimos ver o trilho embutido no forro, na parte superior e nenhum trilho na parte inferior. Melhor ainda, facilitando a manutenção e deixando o ambiente seguro.
A terceira porta era do tipo camarão, mas vale o ponto positivo pra ela também. Com o trilho apenas em cima, o arquiteto conseguir embutir no piso o quadro de estabilização da porta. Ficando tudo no mesmo nível. Ponto pra eles também!
TAPETES E CORTINAS
Todo mundo já sabe, mas é sempre bom lembrar sobre o risco de quedas com a presença de tapetes e cortinas. Apesar da maioria dos ambientes terem se preocupado com a fixação do tapete no piso com fita dupla face e da cortina ficar rente ao piso; mostro aqui dois detalhes do que deve ser evitado.
MOBILIÁRIO
O mobiliário me surpreendeu. Usando minha mãe como cobaia, eu a fiz sentar e levantar de várias peças, sendo que muitas que eu achei que seriam um problema acabaram se mostrando bem estáveis e confortáveis. Claro que sempre tem uma peça ou outra muito baixa, ou muito inclinada, mas de uma forma geral os arquitetos arrasaram nesse quesito!
MENÇÃO HONROSA
Essa cadeira foi a escolhida por nós como a vencedora da mostra. Além de estável, confortável e com alturas adequadas, ela ainda tinha esse detalhe com um puxador na parte traseira. Muito útil para quem tem artrite e artrose!
Também testamos as alturas de cabideiro e achamos as alturas confortáveis e acessíveis; assim como a altura de instalação do forno de parede.
No entanto gostaria de fazer um alerta aos que se interessam no tema de ambientes inclusivos para as pessoas idosas. Evitem camas onde o estrado se prolonga além do colchão. Isso dificulta o acesso a ela e pode ser um risco de queda, principalmente no período noturno.
CORES E FORMAS
As formas arredondadas que vimos presentes na Feira de Milão e na CASACOR SP também compareceram aqui. Sofás e mesas sem quinas estavam para todos os lados.
Em relação às cores, os mineiros foram menos ousados. Se mantiveram nos beges e cinzas e foram poucos os espaços que usaram algum tom mais quente ou com personalidade. Aliás, outro ponto interessante. Uma das observações de minha mãe foi a sensação de estar em um showroom de uma loja e não em ambientes residenciais. A falta de objetos que remetam a algum tipo de passado ou história, assim como o minimalismo forte provoca essa sensação de falta de personalidade nos locais.
E foi justamente por isso que ficamos encantadas com os dois restaurantes presentes na mostra. Um trouxe a tendência já vista em Milão com o azul e tons quentes e outro abusou da história do local onde foi instalado; dentro do Palácio das Mangabeiras. Eles eram os mais elogiados pelos que estavam ao nosso redor e em comum sempre essa observação que eles conseguiam transmitir vida aos visitantes.
Aos que ficam na dúvida se vale à pena ou não ir a mostras de decoração, sempre digo que sim. A diferença está no olhar e na curadoria de quem as visita. Inspirações e coisas interessantes estão por todos os lados, basta saber olhar.
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